terça-feira, 22 de maio de 2007

Buquê pra quê?


Tinha 15 anos, eu. Escola. 17 moçoilos e 10 moçoilas dividiam uma turma de segundo grau. Conversinhas pra cá e pra lá, de repente, o choque. Me vi acuada, 9 pares de olhos femininos assombrados. "O quê? Você NÃO tem enxoval?" E não estamos falando da década de 50, minha gente, mas do ano de 1990.
Uma tinha 25 panos de prato, 2 jogos de lençol e paninhos de pegar panela. A outra, fronhas bordadas com corações e coisas inimagináveis com acabamentos de renda (ui... imagina dormir com renda te pinicando o nariz?). Uma, num baú, outra, na mala que foi da avó, outra ainda no maleiro do guarda-roupa. E eu tinha o quê no maleiro? Roupas de inverno, jogos de tabuleiro e outras "inutilidades".
E mais: "COMO assim você nunca imaginou seu casamento? O meu será na praia, de vestido curto e havaianas; o meu, na Catedral de Curitiba, com decoração gótica, velas e vestido de veludo alemão cor de vinho e modelo Idade Média" E por aí seguia a lista assombrada. Ali me caíram algumas fichas. A de que eu nunca seria a "mulherzinha" típica, por exemplo. Discordo da certeza de alguns homens, aquela que diz que dentro de toda mulher existe uma noiva pronta para aflorar. Nem festa de 15 anos eu quis! Já era um suplício ser convidada para fazer parte do bolo-vivo no aniversário das amigas, aquele monte de meninos baixinhos de pernas duras olhando para os pés, procurando não fazer feio na valsa com suas "damas", em geral já maiores e mais desenvolvidas que os tais, maldizendo a aniversariante que as colocou para dançar com o pretendente errado. Por quê então eu me faria esse mal?

Corta. Volta para o casamento.

Quando pequena, tive fases de imensa timidez. Quer pior pesadelo para uma pré-adolescente tímida que se ver entrando num "palco", seja ele um altar, um cartório ou uma simples passarela de flores em um jardim num dia de sol, trocentas pessoas secando o canto dos olhos com kleenex e com aquela cara de pastel típica de casamentos, "nossa, que noiva linda!"; "olha o corpo, emagreceu pro casamento, né?", etc.
Alguém já viu noiva feia? Só com muito azar da genética, MESMO!
Aí passar o resto do dia/noite beijando e abraçando aquelas pessoas todas, fora o stress maior para mini-perfeccionistas como eu, que não tirariam a atenção da música, da comida, saber se está tudo de acordo e, ainda por cima gastar uma grana obscena para isso. Sim, eu sou jacu. Adoro beijar e abraçar meus amigos, mas não é sempre que estou "dada".
Ai! Que gastura.
Eu vou a casamentos. Só gosto daqueles em que vejo amor de verdade entre os noivos, ou dos meus melhores amigos e, em último caso, dos que servem frisante à vontade.
Sendo bem sincera, sempre apreciei casamentos fora do tradicional, aqueles que a gente não esquece. Alguns dos melhores foram os que a etnia de um dos noivos imperou, japonês, muçulmano, tradicional alemão, essas coisas. Outro que foi num hotel-fazenda, os convidados deveriam levar roupas confortáveis e após a cerimônia, tivemos paredão de escalada, arvorismo e coisinhas assim.
Senti por não ter ido a alguns, por serem distantes e o bolso não permitir a extravagância naquele momento. E ainda falta um tradicional judeu, me encantam os costumes, a música, a empolgação.
Mas já me zoaram muito por aparecer no canto da foto ou da filmagem, a noiva jogando o buquê e mulheres se engalfinhando por uma pétala que fosse, eu com os braços recolhidos, me escondendo, saindo à francesa.
Mas pensava cá com meus botões: "e se eu acabar me apaixonando por um moço beeeem família, daqueles em que não haveria opção senão o casamento tradicional?" Bom, dizem que quando você está bem acompanhado, nada dói tanto. Mas secretamente pedi ao Universo um companheiro que não curtisse a tradição, como eu. Fui atendida.
Primeira semana de namoro, a cara-metade solta um: "você pretende se casar na igreja?" Meio receosa, respondo aquele acanhado, porém firme "não, por quê?". "Ótimo. Quer casar comigo?"
E cá estamos, quase 8 anos juntos, mais de 5 dividindo cama, mesa e banho. Sem necessidade de autorização de padre, pastor ou juiz, descobrindo no dia-a-dia as alegrias e desventuras da vida a dois.

Mazl Tov Dances Maxwell Street Klezmer Band - Álbum "You Should Be So Lucky"

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