sábado, 4 de abril de 2009
Arquitetura de Morar
Dentro de mim mora uma arquiteta. Talvez por gostar tanto do assunto tenha escolhido um pra marido (fajuto, mas diplomado!), que me trouxe tantos outros agregados, também da raça arquitetônica.
Fiz curso de design de interiores, na esperança vã de diminuir a frustração pela faculdade não escolhida na época certa. Não funcionou, adorei o curso, cheguei a fazer alguns projetos, mas o "ser babá" de adulto que tem R$500,00 e quer fazer reforma de R$5.000 e bate o pé e troca os pés pelas mãos me deu gastura.
Na verdade, pensando bem, gosto de casas. E construções. E espaços. O dia-a-dia do arquiteto não é nada glamouroso e com exceção de alguns poucos peixes grandes, nada rentável.
Quando era pequena, morava num lugar privilegiado: casa grande, de esquina, com bosque, horta, pomar, sotão, cachorros, muitas crianças vizinhas e muitos terrenos sem área construída em volta. Mato puro.
Os tempos eram outros, Curitiba era confiável e pacata. Praticamente uma cidade de interior. Senhorito Theo que não me invente de daqui alguns poucos anos aparecer com 3 ou 4 outros pequeninos e comunicar, do alto da sua bicicletinha, "tô indo com os meninos brincar naquele terreno baldio, mãe". Nem por decreto, não aqui.
Mas eu pude, e ôpa, como aproveitei!
As meninas da rua eram poucas, muitas vezes me enturmava com os meninos mesmo. Brincar de tirolesa na casa dos Stein, pendurar nos cipós do terreno de pinheiros "da rua de trás", descer a ladeira ao lado de casa sem frear a bicicleta (com seus devidos tombos, obviamente), fazer piquenique em cima do plátano, no último galho! Mas o que eu mais gostava era de fazer casas. Fossem barracos ("cabanas", na nossa ilimitada e muito imaginativa visão) no bosque de casa, fosse nos terrenos livres. Lembro de uma, e essa eu fiz com as meninas, em que entramos de facão no mato alto e começamos a medir em pernadas os espaços. Os ambientes eram definidos e o facão punha abaixo os galhos, deixando o mato restante servir como funcionais paredes. O próximo passo era sair catando nas lixeiras da vizinhança tudo que pudesse ser útil: estruturas enferrujadas de cadeiras, assentos de vaso sanitário, isopor que envolvia eletrodomésticos novos, qualquer coisa que se assemelhasse a móveis era bem-vindo. Anti-tetânica? Pra quê? Já tinha tomado a minha quando pisei de havaianas naquele prego enferrujado, hehehe...
Depois vinha a parte mais complicada: toda mulher precisa do seu próprio canto. Como resolver, entre meia dúzia de senhorinhas de 8, 10 anos de idade, quem seria "a" dona da casa? Os argumentos variavam muito, desde "deixo você emprestar minha Barbie por uns dias" (artigo de mega-luxo e cobiça numa época onde Suzi reinava absoluta) até "eu capinei mais e achei mais móveis, tenho mais direitos". É, mini-Heloísas Helenas. Mas a gente se acertava, na próxima construção, outra ganhava o direito de posse.
Essa liberdade toda quando pequena me fez ser uma pessoa mais sã, mais ajuizada e, acredito eu, dona de uma boa quantidade de bom senso. Sinto pelas gerações filhas de prédios e de condomínios fechados, onde qualquer bicicleta passando pela grama pode virar multa no fim do mês para os pais.
Quanto à minha escolha profissional, não me arrependo. Compro uma "Arquitetura & Construção" lá em cada morte de bispo, babo nas soluções encontradas, nas fotos lindas e pronto. Quem sabe um dia eu construa meu próprio ninho?
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4 comentários:
AQUELA CASA NA RUA DA IMBUIA(É ISSO?) ERA UM SONHO MESMO!
BJS
Ô memória, Lô! Nome certo... morro de saudades de lá!
Oi Uli, como estão as coisas? E Theo, ainda fazendo festa na hora da papinha?... =)
Poatz, acho que a melhor coisa da vida é ser criança... vc acha que era difícil pq tinha que dividir a "casa"... e eu que tinha que dançar Fábio Júnior?!?!?...rsrs... ninguém merece!!!... =)
Bjão e boa Páscoa!
Pelo sumiço, Theo deve estar acabando com vc na hora das comidinhas...rsrs
Bji
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