sexta-feira, 29 de março de 2013

Réquiem

Essa semana cortaram o pinheiro aqui do quintal de casa. Motivo para escrever sobre isso: não era apenas um pinheiro. Era um pinheiro do Paraná, uma araucaria angustifolia, uma árvore símbolo dessa terra que habito. 


Foram meses de idas à prefeitura, vistorias, etc, até concordarem que a bichinha oferecia riscos e autorizarem o corte. Caso não haja essa autorização, a multa pelo corte ilegal ultrapassa os R$3.000,00. Não era o caso aqui, o de querer pagar multa.
Primeira boa notícia, o custo do corte fica por conta do requerente. Orçamentos girando até a soma de R$1.800, pelos bombeiros, mas optamos por um cortador particular que fez o serviço por R$800,00. Segunda boa notícia, nos entregaram a autorização (aceita em fins de janeiro) lá pelo fim de fevereiro, com validade até meados de julho. Detalhe: nos meses de abril, maio e junho está proibido o corte de árvores na cidade. E quando chove eles não podem escalar a árvore, pois fica muito lisa. Ieii. Isso nos deu um super tempo para nos organizarmos.
Enfim, tudo rolou, mas deixando burocracias (e informações úteis, pois alguém que me leia pode ter o mesmo problema) de lado, o dia em si foi intenso. Como é doído assassinar um ser sadio.
Sim, porque a pobre araucária ficava num pequeno canteiro, suas raízes já quebraram a calçada mais de uma vez, ela estava a poucos metros de um poste de luz e de muita fiação, em vendavais ela balançava em direção ao meu quarto, entupia as calhas e tudo mais com sapé seco, soltava galhos de sapé verdes, pesados e espinhentos, me impedindo de deixar as crianças brincarem à vontade lá fora. Mas era um senhor que ainda gozava de muita saúde, imponente, sem fungos, "gordão, fortão". Aí um mocinho de uns 25 e poucos anos escalou aqueles 20 metros rapidamente e em torno de 5 horas, o que havia não há mais. Cortava pedaços de 50 cm e soltava lá de cima, e dentro de casa meu coração tremia a cada queda. 
Olhei pela janela do quarto e do outro lado da rua estava o vizinho, de uns 90 anos, apoiado no seu andador. Olhos vagos e tristes, afinal foi ele quem plantou o bendito pinheiro sabe-se lá em que momento da sua vida, quando tudo isso aqui ainda era a fazenda em que a família dele morava. Impossível não pensar no que se passava naquela cabecinha branca durante o processo.
E meus pequenos? Agitadíssimos, trancados dentro de casa, reagindo com irritação e instinto àquela morte brusca e ao barulho da motoserra.

Digamos que esse dia coroou uma semana pesada, lotada, cansativa, desgastante. Nada específico, mas uma montoeira de "cotidianices" tão comuns hoje em dia.
Que essa Páscoa realmente traga renascimento, novos ares, um alívio mental.
E se possível, um bom tantinho de chocolates, pra adoçar a vida. ;)
Bom feriado!

3 comentários:

harumi disse...

puxa, que aperto no coração, né? mas estas coisas (tristes) fazem parte da vida... agora as crianças poderão saltitar tranquilamente pelo quintal e vc ficará mais segura no seu quarto...enfim, coisas da vida...
beijocas e boa páscoa!
da harumi

Uli disse...

Pois é Ha, pensando só no lado bom, agora.
Fiquei feliz de poder tirá-lo, mas acompanhar o processo no dia mexeu mais do que eu imaginava que pudesse acontecer.
E vai ser um alívio esse quintal mais limpo! ;)
Beijo, boa Páscoa também!

Ana Paula Salvalaggio Bially disse...

aici, que ruim isso! Quem sabe se vc e os seus pequenos plantassem algo menor e menos espinhento no lugar, pra se redimir com o dono do universo, rsrs!
bjocas
Nana