quinta-feira, 26 de abril de 2012

"Uma mãe animal", com muitas confusões e trapalhadas

Que rufem os tambores, preciso dividir esse momento: é quinta feira, são 4 e pouco da tarde, chove muito lá fora e estou - tchãrãnnn - com tempo livre!!!!!!!
Theo e Lara dormem aqui perto, cada um na sua soneca profunda da tarde. Tenho planilhas pra atualizar, roupas pra passar, armários pra organizar, mas decidi que... não. Simples assim. Hoje, não. My very own personal holiday.
Tenho pensado muito na missão que é a maternidade. O Theo frequenta uma pré-escola antroposófica, de pedagogia waldorf. As reuniões de pais, as conversas da saída da escola com as professoras e outras mães, o grupo de trabalhos manuais das mães que tenho feito parte às quartas feiras, tudo isso vem acendendo várias luzes no meu cérebro. Por que alguém coloca mais dois seres humanos no mundo nos dias de hoje?
A gente procura viver da maneira que considera a mais correta, certo? Seja seguindo os próprios valores, que vieram da família de origem, seja pra ficar bem aos olhos do nosso meio social, praqueles que estão sempre procurando o fio da meada.

Qualquer semelhança com minhas olheiras não é mera coincidência.
Procuro ser a melhor mãe que eu consigo. Como disse um pai na reunião da escola essa semana, "o que importa é a maneira com que vc diz o não para a criança. Se tiver culpa, danou-se. Se tiver raiva, a criança vai sentir. E isso tem que ser trabalhado dentro da gente, porque sim, às vezes dá uma raiva tão grande daquela pequena pessoa na sua frente te desafiando, e vc tem que ser o adulto da relação". Meus dias têm sido de desenvolvimento do auto controle nível ten plus mega combo.
Ontem a Lara, aos 6 meses, começou a se arrastar. Acabaram-se os dias de simplesmente deixá-la deitadinha no tapete de EVA cercada de brinquedos, a partir desse momento preciso reativar meus olhos da nuca, do couro cabeludo e acima das orelhas, porque com certeza ela vai se meter onde não deve. E o Theo, do alto dos seus 3 anos e 7 meses, está naquele dilema do "cresço e perco de vez meu posto de neném ou imito a Lara, já que todos acham tudo que ela faz tão fofo?". E entrei numa semana de impor meu papel de rainha, e ele como nobre e honrado cavaleiro me deve respeito sem questionar os porquês.
Aí existe a linha tênue entre não questionar as regras básicas de uma casa e da sociedade, mas sim, questionar o mundo sobre todas as curiosidades que tiver. E conseguir deixar isso claro pra uma criança pequena desgasta um ser humano, vou te contar. Hoje é quinta e tivemos 3 almoços só essa semana que acabaram na hora do jantar. " Você não levanta dessa cadeira enquanto tiver comida nesse prato". Choro, vela, fita amarela, barganhas, um menino dormindo encolhido na cadeira a sua soneca da tarde, passamos por tudo isso. Mas hoje ao receber o prato a colher foi naturalmente para as mãos em vez do "eu quero que você me dê!"
O difícil é ser forte, não sorrir nem chorar e manter a firmeza na voz, não voltar atrás depois que o impasse se instala. 
Hoje minha vida são essas crianças. Quando leio artigos e reportagens, quando converso com mulheres (mães ou não), é uma constante a idéia de que eu "não posso esquecer de mim". Que preciso ter um jantar romântico com o marido uma vez por semana, que preciso ter tempo para academia, que meu trabalho não deve ser renegado, que minha vida social precisa existir, que meus cabelos e unhas precisam estar sempre bem cuidados.
Então... até acho simpáticas essas idéias. Mas não. Tá, tá, não quero virar aquela mulher de rabo de cavalo torto, moletom sempre cheio de manchas de baba e comida e que não sabe falar de nada além dos filhos. É muito fácil ir por esse caminho. Mas ontem, conversando com minha mãe, acessei muitas memórias e ela ou meu pai SEMPRE estiveram lá. Ali. Perto.
Levei broncas, ganhei colo, tive ajuda pra fazer lição de casa, tudo que eu perguntava um dos dois sabia responder, minha casa cheirava bem, minhas roupas eram bem cuidadas, eu tinha uma boa educação (em casa e na escola), tinha lazer, tinha atividades extra curriculares. Isso com mais dois irmãos e um orçamento geralmente apertado.
Meus pequenos vão crescer (estão crescendo!!) muito rápido. Fui adolescente até outro dia, e sei que adolescentes querem os amigos mais do que os pais. Mas eu sempre quis meus pais perto, mesmo que passasse os dias com os amigos. Eram meus pais, não meus "BFF"s confidentes. E gostaria de ser esse porto seguro pro Theo e pra Lara. Que tenham seu amigos pra fazer suas confidências e aventuras, mas que se sintam à vontade pra compartilhar seus sentimentos comigo. E a hora de plantar isso é agora, quando estou atenta às suas necessidades, suas pequenas descobertas, seus treinos para serem humanos.
Como isso exige dedicação e tempo ( e agora são dois, cada um merecendo um tempo a sós com mamãe), tive que priorizar um bom tanto de coisas e deletar ou mandar pro depósito outro tanto. Como sinto falta de ler! Acabar com um livro em poucos dias, me deliciar com a história. Voltar a fazer cursos, nadar, fazer yoga... mas, sempre, a chave está no equilíbrio. Aos poucos o sono entra nos eixos, eles crescem e me ajudam mais, o tempo pro trabalho aumenta, de repente dá até pra postar no blog em plena luz do dia ;o)
O segredo é ter organização, estabelecer uma rotina e segui-la o mais fielmente possível e aceitar. Aceitar que não vai poder ir no aniversário da amiga na balada, que para ir no cinema é necessário organizar uma cansativa força-tarefa, que se conseguir fazer as unhas a cada 30 ou 40 dias, está no lucro. Que a escolha daquele homem pra ser o pai dos seus filhos tenha sido um momento inspirado e ele entenda que ou os dois assumem os remos do barco ou este vai ficar girando no mesmo lugar.
E que tudo vale a pena quando vc ganha um sorriso banguela ou um "eu te amo, mamãe", pelo simples fato de existir.
E o Theo acordou. Durou pouco, meu feriado ;op
xoxo,
Gossip Girl.


ps: BFF = best friend forever. Soooo teenager style.

UPDATE = enquanto eu escrevia isso, a amiga Camila Voigt perguntava no Facebook minha opinião sobre esse vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=7ni0NwhNhD8 . Sincronicidade? Recomendo.

7 comentários:

Thays Petters disse...

Quando leio essas coisas penso algumas vezes antes de ter um filho, sabia? Estou sendo egoísta né? Mas sem filhos e com uma agenda que inclui pós graduação, academia, trabalho, curso de inglês, livros gostosos e filmes já é difícil me organizar, quem dirá com pessoinhas que dependem de mim.
Achei lindo o que vc escreveu Uli, mas e qual seria a sua dica para uma mulher que já pensa nos bebês?

harumi disse...

adorei o seu texto! tão verdadeiro e sincero! sem aquele romantismo exagerado nem mimimi.
e a vida sempre vale a pena, apesar dos percalços, num é? e as nossas escolhas acabam dendo certo.
é isso aí, Uli! ganbarê!!!!
beijoconas,
da harumi

Ana Lara disse...

Pois é, filha,
há um tempo para tudo e, chega o dia em que vc tem o tempo para ler o livro, fazer o curso, nadar... seja lá o que for. Eu, ontem, costurei, li, cuidei do Pedro...
Conheço muita gente que fez a vida de família diferente da minha e hoje vivemos da mesma maneira, MAS o que vc escreveu aí em cima valeu a maneira que eu fiz - porque foi bom para nós duas.
Obrigada você, obrigada Deus por me dar VOCÊ!
"Mainha"

Uli disse...

Mamys querida, brigada eu. Por continuar aí.
Harumi, brigada pela audiência de sempre ;o). Minha intenção com essas reflexões é cutucar e tirar as pessoas do comodismo.
E Thays! Nada de errado em não ter filhos! Fiz um update no post com um link prum vídeo beeeem interessante, dá uma olhada. Mas que é uma delícia, isso é...

Thays Petters disse...

Nossa Uli, que vídeo bacana! Acho que me identifiquei ainda mais por conta da profissão. Essa loucura de ser jornalista faz com que muitas vezes a gente desista de algo que queremos muito. Em todo caso, serviu de lição, pra pensar e PENSAR muito antes de qualquer coisa.
Obrigada!:*

Unknown disse...

ótimo! como sempre! Bj

Chico Pesserl disse...

Filha amada, teu texto é uma delícia!
Vejo teu dia-a-dia agitado, tua força e energia para lidar com o Theo e a Lara - e o teu carinho infinito com eles! - e sei que meus netos têm uma boa mãe.
Fiquei feliz por saber que tua mãe e eu recebemos "nota boa" no quesito "jeitão dos pratrásmente" e que você aprova o modo como foi criada...
Volto a sugerir que você mantenha essas pequenas crônicas organizadas - elas poderão virar livro, dia desses!
Beijo grande, filhula!