Com dois ou mais, então!
Por aqui as coisas mudaram muito depois das crianças. Os tempos são outros, se sair de casa era calçar o sapato, pegar a bolsa, a chave e ir, com os cabelos ao vento, com crianças tudo demora o triplo.
A criança dorme. A mãe espera, pondo roupas na máquina, lavando a louça, procurando os benditos exames de sangue que a criança resolveu esconder no dia anterior. A criança acorda, demora pra comer e beber. A mãe arruma a criança, na hora de ir pro carro ela precisa ir ao banheiro ou encheu as fraldas. Sorte quando não vaza, senão vai mais um tempo para trocar tudo de novo.
A mãe separa a garrafa d'água, o biscoito, a troca de fraldas e roupa, o brinquedo.
"Todo mundo pro carro, vamos, vamos!"
Aí um entra e se joga no porta-malas, achando muito engraçado. A outra começa a correr em volta do carro, "fugindo da mamãe" às gargalhadas.
Aí voltam correndo pra dentro de casa, "esqueci meu Omnitrix/Buzz Lightyear/livro/nenê".
E a pediatra esperando. E o portão da escola fechando. E o almoço na casa da tia esfriando. E.
E.
E...
E os cabelos com certeza não estão ao vento, a mamãe mal e mal consegue tomar um banho que lave bem todas as partes, quem dirá grandes cuidados estéticos.
E por aí transcorre o dia. Os dias. Os meses. Os anos.
E quem entende essa mulher?
Outras mães.
Porque quando a gente encara essa rotina, precisa haver um apoio psicológico/emocional/familiar. Ou essa pessoa se perde no limbo insano da maternidade. E pode ser feio. Irreversível.
Porque é uma via de duas mãos. São mulheres facilmente irritáveis, parece que o pavio aceso pra chegar na carga de dinamite está sempre há 5 cm do fim. Mas se derretem de verdade quando seus pequenos dizem que as amam, quando contam coisinhas das suas vidas, quando caem e chorando, a primeira coisa de sai da boca é "mãmáááiiii!!". Pois ali se estabelece que "confio em você pra crescer saudável e com nenhuma parte faltando, humana".
Não é para todas. Ou todos, pois existem aqueles pais que curtem assumir "com força" essa pa(ma)ternidade. Quem tem consciência dos seus limites e entende que é melhor ser mãe inteira e feliz por uma hora diária do que uma pessoa agressiva e vassourada por 16, tem que ir fundo, super apóio também. Cada um sabe de si e do que melhor lhe calça nos pés, certo?
Não julgo, não questiono, não recrimino. Sou humana, claro, e quando a situação é de abandono total, me permito refletir. De resto, contanto que as crianças estejam bem, tá valendo.
Mas como me incluo lá no começo do texto, percebi ao longo do tempo da importância dessa pessoa cuidadora ter também seu grupo de apoio. Amigas.
Dei sorte nessa vida, tenho uns bons punhados de mulheres que se incluem nessa categoria. E são de verdade, daquelas que a gente pode brincar sem se ofender, se ver depois de meses/anos e conversar como se o último encontro tivesse ocorrido na semana passada.
Mas próxima dos 40, é natural que as amigas estejam em fases diferentes de vida. Pra uma os filhos já cresceram, pra outra nunca vieram. Pra uma o trabalho tá bombando, pra outra ele ficou lá pra trás. Uma tá no primeiro amor, a outra no oitavo.
Como conciliar?
Jogo de cintura pra matar as saudades. Escapadelas, grupinho fechado num canto na festinha de aniversário de algum dos filhos. Mas e as questões urgentes, as fases infantis que nos deixam desconcertadas? Novas amigas.
De novo, dei sorte. Escolhi uma pré escola com valores bacanas, e me identifiquei com as mães do novo grupo social do pequeno. Win-win situation. Os encontros são rápidos, porém diários, as dúvidas são resolvidas na hora, o peito desafoga a angústia da solidão barulhenta da maternidade.
E como isso torna mais leve a jornada!
Então esse texto cabe aí, no setor de agradecimentos. A todas aquelas que fazem minha vida mais alegre e colorida, incluindo aí meus sobrinhos tortos, que já são muitos, e seus companheiros, que nos fazem parar constantemente pra refletir e agradecer sempre por termos nascido mulheres ;)